É preciso exorcizar o medo.
Para as crianças há filmes, quadrinhos e afins que ensinam que o "monstro do medo" só está forte e grande porque estão sentindo medo e é preciso usar a coragem pra enfrentá-lo. Para os adultos, na Academia, autores nos dizem que a cultura do medo torna a violência muito maior simbolicamente do que ela é de fato, isto é, além da violência de fato, é preciso combater a cultura do medo tão facilmente veiculada pelo mídia. Na nossa Rio de Janeiro temos medos variados, muitos deles relacionados aos conflitos entre o tráfico de drogas e a "polícia", muitos inventados ou exagerados, outros bem possíveis e reais. Eu preciso exorcizar UM medo: o do estupro.
Nós mulheres, ainda que não digamos para alguém, já sentimos ou sentiremos medo de sermos estupradas.
Um olhar estranho, uma aproximação brusca podem ser interpretados como algo que representa um possível perigo. Infelizmente, não é uma "frescura" nossa. Nem mesmo é porque nos achamos irresistíveis: pr'além do Rio, em todo o Brasil, uma mulher é estuprada a cada 12 segundos. Esses dados são baseados, entre outras coisas, nos boletins de ocorrência, isto é, há risco do índice ser maior, uma vez que muitas vítimas ainda não conseguem fazer o registro/denúncia. Visto isso, temos um medo legítimo dessa coisa que é uma das encarnações do machismo. Sim, o machismo: aquele que faz as pessoas acharem graça em piadas com estupro, ou piadas de loiras.... ou aquele que faz as pessoas acharem que há um padrão de corpo feminino e um padrão de comportamento feminino e tudo que saia desse padrão merece ser rechaçado e depreciado.
No ensino médio, lembro-me que as meninas que "não eram" virgens sentiam medo de serem estupradas exatamente por isso, porque poderiam pensar que elas seriam "fáceis"; e as virgens tinham medo de serem estupradas ainda virgens ou de morrerem virgens e terem seus corpos violados no IML. Confabulávamos sobre possíveis reações a tentativas de estupro. Nossas mães, avós e tias nos instruíam dos "modus operandi" de sequestradores/estupradores: "carro andando devagar perto de você; homem que está há muito tempo andando pelo mesmo caminho atrás de você etc."; nos imprimindo a imagem do "homem como agressor constante"...ah é, isso também é machismo, mas como condenar as mulheres por essa postura machista (a de colocar qualquer homem como possível agressor) se para elas o estupro é um risco iminente?
Estamos na segunda década do século XXI e ainda está tudo bem acharem mais normal que meninas não aprendam ballet em vez de (ou também) judô; ainda está tudo bem ensinarem que há as mulheres fáceis e as não fáceis e que se acharem que ela é fácil (por causa da sua roupa, p.ex.), estará mais exposta ao estupro; ainda está tudo bem que meninos aprendam a mesma coisa sobre as meninas fáceis e não fáceis; ainda está tudo bem ensinarem às meninas que sejam dóceis e amenas, como característica do feminino; ainda está tudo bem um professor universitário desejar que uma mulher (no caso uma jornalista) seja estuprada como punição por fala que ela que ele não gostou.
Recentemente, sofri uma tentativa de... sei lá o que. Dentro de um ônibus praticamente vazio, um homem sacou um facão de açougueiro e, em vez de roubar as minhas coisas (o que teria feito fácil e ligeiro), mandou-me ir para o canto do banco no qual eu estava sentada. A educação a qual fui submetida diria para eu obedecer a ordem que me fora dada, mas meu corpo todo disse "NÃO!". Eu simplesmente corri dentro do ônibus com o objetivo de pular a catraca, sair pela porta e correr mais. O homem chegou a vir até o meio do ônibus, porém, desistiu da ação. Sem entender o que havia, o motorista abriu a porta e fechou ao meu comando, liberando o mal intencionado. No fim das contas, minha mente repassou o momento várias vezes. Pensando no "e se", é provável que a ação fosse uma tentativa de sequestro/estupro, já que o homem não se deu o trabalho de levar minhas coisas. Essa possibilidade é MUITO incômoda. Quer saber? Acho que preferiria que ele roubasse minhas coisas.
como faz pra exorcizar? :'(
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