Uma vida de cão

Por algum motivo obscuro, não apreciava a companhia de pessoas. Antes, seu contentamento era acariciar os macios e brilhantes pêlos de seus cinco pomposos, imponentes, apesar de diminutos, cães. Certa Mulher e seus "filhos" caninos andavam lá e cá, desfrutando de spa's, grifes e o mais que se é possível ostentar. A rotina sagrada fora quebrada quando um cliente novo e desavisado do salão de beleza estacionou em sua vaga cativa, o que não agradou nada Certa Mulher: - " terei que gastar meus Prada por causa deste energúmeno"- dizia caminhando poucos metros a mais que o costume em direção ao seu templo da beleza. Inusitadamente, Menino Qualquer abordou Certa Mulher: -"Tia... Justiça¹, por favor!"- Ele recebe os latidos estridentes dos minúsculos cães cuja dona se põe a retirá-los todos do chão e a segurá-los no colo, apertando bem forte e afastando-se do pedinte (-"um cão fedido e sem dono"- pensava ela, no momento) como se da morte em pessoa fugisse. Em poucos segundos, seus Prada a levaram ao estimado salão: - "Gim para mim e chá gelado para meus pequeninos"- Já que era um dia quente e abafado de uma cidade litorânea. Na calçada, tentando refugiar-se numa sombra, Menino Qualquer pensou por muito tempo e por algum motivo não muito obscuro, não preza mais a companhia das pessoas.

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¹ A algum tempo li ou ouvi em algum lugar que o pedinte dizia ao judeu dos tempos passados: "justiça". O abordado deveria colaborar, era uma lei. Se eu estiver errada, por favor, me diga.