Hoje, eu tão dentro de mim caminhava pelo meu mundo, que não é isento de problemas: é abastecido de convicções e não-convicções. As não-convicções assim são, pois me são as verdades intragáveis.
Hoje, como sempre tão dedutiva, antes que o amigo pudesse terminar a frase, conjuguei o verbo que se odeia, que só é possível odiar quem não é o sujeito. Nesse meu mundo, parecia que tal verbo nunca seria dito, sempre temi sua visita, não esperei sua chegada: morrer, desta vez foi conjugado morreu, ele morreu. Inadmissível! Mais uma verdade que nem ao menos bateu à porta, mas veio e a derrubou. Ontem ele inspirava e expirava, eu vi(!), outros viram(!): respirava, andava, falava. Intragável! Há um segundo tal verdade era rara e distante, neste outro segundo deveria eu engolí-la simplesmente?
Hoje, as imagens fizeram mais do que uma testa franzida: a boca se abriu levemente diante dos fatos, os olhos molharam-na tentando despertá-la da sua incredulidade e as sobrancelhas se uniram em grande esforço a esconder os olhos.
Hoje, o anoitecer de um sorriso fez muitos outros recolherem-se em bocas molhadas de triste sal.
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Dedico a Michell Veras, estudante da Geografia na Uerj, bom colega e amigo, morto em Alagoas no dia 15/01/2010.
Ah querido,você vai fazer falta...
Ju, amei esse seu post. Tão profundo. Por mais que tentemos expressar nossos sentimentos acerca da morte, não conseguimos: Morrer é um verbo intransitivo!Não precisa de complemento. Ás vezes pode vir acompanhado de um termo que indica modo,lugar,tempo. Mas, a bem da verdade, este verbo tem sentido completo. Tão completo, que até mesmo a tentativa mais profunda de expressar a dor da perda, não alcança àquilo que estamos sentido.
ResponderExcluirValeu pela boa tentativa. Muito boa por sinal.
O primeiro de tudo que achei o post muito bom. Bom mesmo! Muito profundo, denso, mas, ao mesmo tempo, leve, fluido.
ResponderExcluirQndo falei sobre o a intransitividade do verbo morrer e, consequentemente, ele não precisa de completo, foi para aludir à dificuldade de se expressar a dor da perda. O verbo intransitivo pode vir acompanhado de um termo que indica modo,lugar,tempo, o adjunto verbal. Entretanto, não precisa de complemento: as pessoas morrem e ponto. É isso morrem. Mas morreu de que? "Morte morrida", "morte matada", afogado, "morreu de amor"... É apenas um complemento. Apenas morrem.
Aí é que tá. Por mais que tentemos de todas as formas demonstrar a dor da perda, nunca conseguiremos expressar tudo aquilo que estamos sentindo. Por mais que tentemos nos expressar, nossa dor parece ser inexpressível. Daí surgem depoimentos bonitos como àquele que escreveu. No fundo, no fundo, os que lerão não conseguirão compreender em sua essência a dor que vc sente; mas podem refletir sobre a situação e suas próprias dores.
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Por mais que surjam posts bonitos como o seu, nossos entes apenas morrem. Tudo que escrevemos, expressamos sobre a morte, não complementam o sentido do verbo, já que ele é intransitivo. Isso não invalida os nossos complementos (posts); apenas mostra como pode algo tão grandioso qnto a morte não pedir um complemento. Segundo as normas, todo verbo intransitivo, como morrer, chover, são de sentido completo. E aí é que eu me pergunto: como pode o verbo morrer ser intransitivo? Nós, que estamos sofrendo, precisamos de um sentido sim! Exigimos isso! Mas, o fato é que, no fundo, no fundo, por mais que soframos, o final de tudo é: morreu! De que? Não interessa, morreu! E é isso que nos deixa sem poder algum, não podemos fazer nada ante a isso.
Isso é tão louco, que estou eu aqui divagando sobre a morte a partir de nossa norma da língua portuguesa. Consegue perceber a grandiosidade da coisa? É tremendo e dúbio tentar expressar o que é extremamente difícil de fazê-lo. Mas eu amei a sua tentaiva. Me emocionei com suas palavras.
Bjos, Cris
Bonito. Tragicamente bonito.
ResponderExcluirGod bless you girl.